domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lua cheia de palavras vazias

A lua dá brilho os olhos
De quem contenta em dizer: “é bela”
E nem se lembra da outra face
Metade oculta, que não será nunca
Nem sua, nem de ninguém.

A solidão noturna da lua
Não se dá ao que é são
Você diz lua, ela diz não

Por isso, não invoquemos seu nome em vão
A lua está cheia de palavras vazias
Ela pertence aos que aceitam suas faces, suas fases
Sem restrição

Isso que você sente quando a vê
É só você
Olhando para uma coisa que não é sua
No alívio de saber
Que não há nada que a leve até você

A lua está cheia de elogios ocos
E muito acima dos seus brios e anseios
Ela se cansa dos que a admiram inertes
E só se dá aos que lhe estendem a mão
E aceitam o reflexo do que não são

A lua é espelho no mar escuro
De quem a vê além do ego
O salto urge, não é seguro
A lua eleva a quem se entrega

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O CONTO DO SISO, SÓ DE SACANAGEM

Prefácio de espera

Na sala de espera palavras conhecidas pregadas as vistas: “A arte da vida é fazer da vida uma obra de arte”. Entre Gandhi, alguns segredos e outros dentes, como fazer desse instante arte de espera?

É preciso coragem para entregar o corpo de menina ao saber da medicina. Haja fé para oferecer o dentes aos pais de santos doutores non sense da ciência!

No início era o siso

Para ser mais precisa, assim começa a história: nasce uma heroína mulher entregue aos homens.

A minha direita o doutor dentista deus. A minha esquerda o auxiliar negão e bom de branco. E o fato de que em situações difíceis é inevitável não pensar em sexo que, instrumento divino, dá vida a tudo que tem dente.

Será que eu vou pensar sacanagem até na hora da minha morte ou isso é coisa da idade? E porque o tal dente do juízo foi me nascer logo torto? Cirurgia não pode ser coisa natural, e no tempo dos antigos como era? Só sei que foi assim que Deus fez. É só eu entrar em um hospital que viro logo cristã. E agora esse castigo! Aposto que é punição pelo pecado original! Por isso esse espécie de circuncisão, sacrifício, anjos do bem e do mal odontológico. Juro que não é drama, quem já viu o ato sabe como sangra!

- Aspira aqui, diz o doutor

A mão do negão de canudinho suga tudo, até sentimento. É prá limpar minha baba tarada de boca aberta. Pulso firma no manuseio do treco. Vai doer depois, garanto. Ele só faz isso por causa da santa anestesia, que me ludibria os sentidos. Se não fosse por ela não faziam isso comigo!

- Abra mais a boca.

Opa! E lá vem o negão. Com que parte do corpo ele pressiona meu cotovelo esquerdo? E eu aqui a mercê pensando sacanagem do moço... No entanto, por via das dúvidas, afasto o braço (vai que eu gosto?).

Ruído

E agora o que é isso? Será que é preciso?

A serra elétrica de dente. Excelente! Ainda bem que dr dentista é experiente. (Porque vai que ele erra o buraco!) Mas pra tudo na vida há uma primeira vez. E costuma-se fazer tudo errado nesse caso. Ai se esse homem fura minha língua! Jesus, ilumina as mãos do senhor doutor. Melhor pensar que ele, depois da primeira vez, fez a segunda, a terceira e tem uma filha! Vai chegar em casa hoje jantar estilo comercial de margarina e tudo estará bem. Tem até um cachorro pudle branco... qual seria o nome?

- Tudo bem? Agora você vai sentir um clec, não se assusta. Segura o queixo dela, diz o doutor.

E o negão da encoxada segura o meu queixo como se fosse... E quando será eu vou poder beijar de novo?

- Acabou. Que bonito trabalho!

Feita a arte do doutor. Foi bom pra você? Bem sei que cirurgia de siso é que nem amor. Quando você pensa que acabou, aí é que começa a doer... E ele nem vai ligar, mas a gente se vê. Semana tenho tirar os pontos. Daí eu conto.

Posfácio

Alguém me faz um convite de sorvete?

ps: contribuições involuntárias ou quase isso: Fred Graniço, Caró Lago.

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