quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Casa dos Pais

Tem um peito que não é meu na boca do meu amado
E na carícia que me faz na pele, carinho materno
No olhar do namorado, mora seu jeito de ser olhado
Em cada corpo a casa dos pais

Sei que o jeito de amar é familiar e parte da memória
No entanto, é tempo de dar um novo corpo à história
- Não é que eu vá ser uma má nora...
Mas tá na hora de botar os pais para fora!

Na nossa cama o ato, não interdito
Não me preocupo, eu gozo, eu grito!
- Mas vai que a velha escuta!
- Depois eu que sou filha de uma...

Rapaz, quando você deixar a casa dos seus pais
Vai ver que a vida é mais que opções
Do que te levam a boca em bandeja
Pessoas não são garçons e eu não sou a sobremesa!

Mas se você disser que te apraz
Aí eu me coloco por sobre a mesa
Não presta debaixo dos panos
É papo reto, pratos limpos, sem enganos
Ainda que por debaixo da saia...
No caso não cabe ninguém de tocaia

E com mãe por perto sempre se é a outra.
A perder na disputa
De ideal que nunca alcança
Quando você criança
Eu sou só substituta
E isso não aceito
Quero de igual para igual
Esse é o plano.  Horizontal

Na minha cama, garoto
Até tem peito... (Porque não?)
                                                mas o amor é genital.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O ciúme dos pés de Pamela Perigos

Pamela é prima de Amanda Petardo

Pamela Perigos é uma princesa faceira que tem por profissão pisar os corações dos homens. Sem apego a contratos, preceitos ou sapatos, Pamela Profana anda com os pés descalços. Mas se engana aquele que pensa que a moça suja os pés na lama. Cada passo de Pam pisa a face do tenta, sem sucesso, lhe beijar os pés. Patético. E a gata artilheira é tão boa de chute que já não se pode contar os dentes que descasou da boca alheia.

Pamela é a heroína de todas as cinderelas choronas. Tudo quanto é coisa na vida se joga aos pés de Pamela Pezuda e agradece ser pisado. Dizem até, que nas pegadas que deixa no pasto, nasce uma flor, que quando bem fervida faz um prato afrodisíaco que transforma qualquer Maria-vai-com-as-outras em uma boa trepadeira.

Isso até nossa princesa conhecer Pedro - o Pianista, que foi preciso em tocar seu ponto “p” feito tecla de piano. Pois é, ele criou um plano que amaciou nossa pantera até o estado de gata borralheira. Ao seu toque de sonata, Pam renega seu costume e já não bota o pé na estrada. Depois da massagem nos pés que Pedro fez, a moça passa a ter ciúmes! Agora pantera neurótica, agora olha por onde anda, vigia os passos do amado e caminha com todo cuidado.

É que a moça era tão auto-suficiente, que até seus pés já tinham desenvolvido uma personalidade própria:

O pé direito, impositivo, exige que se comece a massagem por ele, diz que dá sorte e é tradição. Dando motivo ao companheiro de esquerda, impulsivo, começar a confusão. E os antigos camaradas de chão, depois da vida de patrão, sossego... Já não podem desapego. Pernas pro ar, pés que estão amando, não querem mais pisar. Não escutam os apelos de Pamela, nem atendem seu comando! Quem já recebeu uma massagem nos pés sabe do que eu estou falando...

Presa. Pamela sábia andarilha, pressentiu a arapuca, mas caiu na armadilha. O laço do desejo de criar raízes a apertou os tornozelos e lhe girando de ponta cabeça. Mas a fera não tem medo. Prefere quebrar a cara. Antes a foice ao fim da liberdade. Que lhe cortem os pés para alejar o desejo! Eis que todo Aquiles tem seu calcanhar, toda heroína seu ponto fraco e todo mito seu paradoxo: O que poderia Pam sem seus pés para levantar a poeira do mundo?

E assim se criou o costume - o uso dos sapatos contra os ciúmes (o que também explica a estranha atração de mulheres pelo seu consumo). É fato que a gata perde um tanto do encanto quando faz caber seu desejo no formato de sapato. E no entanto é ainda mais perigo de salto agulha cristal, um risco para todo Pedro que se acha o tal. Pamela é o avesso da Cinderela, que é só espera de príncipe encantado. E enquanto não encontra, seu par de pé descalço, previne o passo em falso, astuta: ela bota o sapatinho e vai a luta!

Agradecimentos especiais a Dan Soares, autor de Amanda Petardo, Dudu Pererê e Pamella Lessa (que emprestaram experiências, inspiração e idéias a essa empreitada poética).

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