quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Poema de língua

Não cabem mais palavras na boca de quem beija.
Mas há um bocado de sentido! Por isso digo: o beijo é linguagem. Línguas ageis interagem. E o transporte é a saliva, que lava a palavra e me leva à ação. O que em mim ativa: desejo de comunicação.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Entre

Dentro da festa tem uma festa
tem uma prece dentro da festa
tem uma pressa na superfície
pressa que passa quando acontece
-o espaço entre

Dentro da festa tem um convite
Não tem limite e nunca finda
Peço que venha sem pensamento
E que confie no que consiste
-a festa ainda

Tem uma festa dentro do tempo
Sem estrutura e sem conceito
Que coexiste em substância
Flui e transborda a superfície
-deste presente

Tem uma festa dentro da boca
Festa de fala que não se entende
Este convite vem das entranhas
Como sabê-las sem habitá-las?
-peço que entre

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Voto nu

Meu partido é um coração partido
Entre direita e a esquerda faz um vão
Plataformas e discursos se disputam
Cada extremo oposto
Rejeita coligação

Pelo verso ou pelo voto
O candidato logo nota:
- vence aquele que sustenta a posição
Mas cada lado nega o outro
Na política do não

Por isso afirmo o espaço onde
O vazio não se esconde
Da disputa que não fala
Fica a disposição
De onde a poesia brota
- ela é quem tem meu voto
Posto que o verso não é vão

Do amor nunca se é nulo
Volta-se nu ou não.

domingo, 3 de outubro de 2010

Cavalheiros, abaixem as armas

Cavalheiros, abaixem as armas
Não há nada a ser conquistado
Quanto mais moços, mais veteranos de guerra
Rasgam as almas em redes de traumas
Sob couraças sem remendo.

Vejam o jovem tecelão
Em sua delicada arte de cozer
- coisa de mulher
Fia um destino sem armas
Ajusta um pequeno desvario
E com ela, por um fio
Confia e tece a paz
Em constante desafio
Ao qual se rende. Arte.

Cavalheiros, abaixem as armas
À infértil conquista da bela
Mais ricos os homens da terra
Porque sabem que não há o que roubar
- quando se é dela.

Oh colonizador vão!
De que valem as estratégias de ocupação?
O território é sua amiga
Com quem se compartilha
A terra, a cama ou o chão.

Cavalheiros abaixem as armas
Porque a conquista é breve
E o que ganha logo não serve:
Semente boa sobre o aço
Um remendo de fumaça.

Xaxado do queixo

Não me queixo, mas faço questão
Em um questionamento contínuo
De saber da fome, a composição.

Para queijo, basta a faca e a mão
Em rebolar de queixo
Mas se beijo é mais complexo
Só completa com um par
Com o qual eu me derreto...
Será que eu chamo o seu queixo prá dançar?

Tem gente que de tanta fome de beijo, come queijo sem parar.
Outras batem o queijo e fazem quiche de desejo.
(mas isso só faz quem sabe cozinhar)

Eu confesso. Só digo poemas para botar o queixo para xaxar.
Mas não gosto da batida de quem trinca o maxilar:
não beija, não queixa, não fala
faz que não tem fome
vive como quem dorme
e ri como quem morde!

Anda por aí com um quê de tanto faz
E nem pergunta o porquê do querer
Da fome, do desejo e tudo o mais.

Se queijo ou não beijo,
Eis a canção. Não canto. Mas faço questão.

Minha lista de blogs