segunda-feira, 14 de junho de 2010

Falar de mulher

Aos ratos!

Epígrafe:
http://www.youtube.com/watch?v=YiVzLyDL3Xs


Uma rosa é uma rosa é uma rosa.
Uma mulher é uma mulher é uma mulher.

Mas melhor que uma mulher
Só dez mulher
Só dez mulher
Melhor que dez mulher
Só mil mulher
Só mil mulher

Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher

Falar de mulher
Mas que mulher é essa?

Mulher melancia,
Mulher jaca,
Mulher melão?

Mulher manga!
hummm... gostosa.

Já me disseram na rua.
“Se fosse uma manga eu descascava e chupava todinha.”

E ficava o bagaço. Largado no chão.
Eu bagaço. Um caroço enorme.
Ninguém vai engolir...
E os fiapos.
Eu sou o fiapo que fica no dente.
A coisa melada que gruda nos dedos.
Eu sou...
Doce, como manga.

É que vocês não me conhecem, mas eu como a maior parte das mulheres do anos 20.000, trabalho. Tenho que carregar peso igual aos homens, bolsa de supermercado e abrir tampa de produtos conservados. Aqueles sabe? De palmito, de extrato de tomate... Ou pelo menos gosto que me deixem tentar... O fato é que, de manhã quando eu tenho que acordar cedo, pode ser que meu humor esteja bem azedo. E se no caminho topo com um engraçadinho que me confundiu com uma manga, lanço logo um comentário bem ácido. E nesse calor, quando volto prá casa já suada, pode ter certeza que eu vou estar salgada. Mas se me deparo com um bom amante... Pode crer que meu sabor vai ser picante! E se por algum motivo me larga... de certo que me deixa bem amarga.

Mas essa mulher que é só açúcar no mel
Que parece que caiu do céu
A mulher da poesia, que sempre rima
No salto alto tá sempre pro cima
No Outdoor ou na revista...
Atriz, modelo ou bailarina...

Mulher moderna que malha, trabalha, cuida dos filhos, sabe fazer creme broulé e ainda conhece três técnicas diferentes de sexo oral prá enloquecer o marido depois das bodas de prata.

Essa mulher não tá mapa!
Mas eu sei que ela tá aí.
Nessa tal subjetividade...
E nos persegue e é buscada.
É a tal mulher idealizada.

É dessa mulher que tanto falam.
E como fala essa mulher!
Sempre a nos dizer como devemos ser.
A fala dela cala nossa voz.

E freqüentemente ela fala de amor.
Como dizer eu te amo para a mulher do contemporâneo?
Amor ainda é o nosso ponto fraco.

Aí você dizer que me ama.
Que eu sou doce, açúcar no mel coisa e tal...
Eu vou gostar, vou apaixonar, vai dar romance, poesia...
E logo logo, você vai ver que eu não sou só essa doçura toda.
Vou implicar com os teus vício, vou dizer que vc não pensa no futuro, não junta dinheiro, e que se continuar desse jeito vai ficar brocha aos quarenta. Aí você vai ver que eu penso em casamento. E penso. E você vai dizer que Amélia que era mulher de verdade. E eu vou achar que errei. Mas isso faz parte de ser mulher. Pensar em quem vai ser o pai dos filhos que se pretende ter ou resolver sustentar a decisão de não tê-los. Uma puta responsabilidade!!! Dá até vontade de mandar a tudo prá puta que pariu e virar cachorra. Sair latindo a vontade!

Sabe como é:

“Sou cachorra sou gatinha não adiante se esquivar
Eu vou soltar a minha fera eu boto o bicho prá pegar!“

Ou então outro bichos,

“Vou pro baile sem calcinha
Agora eu sou piranha e ninguém vai me segurar
Daquele jeito!”

Mais isso é um absurdo, uma vegonha! Uma completa degradação do gênero feminino. Afinal de contas todo mundo sabe que a natureza feminina é o amor, que mulher tem drama na veias e que toda mulher deseja mesmo que inconscientemente se casar - diz a dama-moral-intelectual-contemporânea - que adora falar mal de uma puta-pobre-burra para se diferenciar.

E não é isso que rica fauna do funk carioca?
Sai a “princesinha” entra a cachorra da periferia.
Uma forma me contrariar...
Entre o pudor e a pornografia
Entre o romance e a putaria.

"Se quer romance compra um livro
Ou entao vai no cinema
O negócio é putaria
Sexo resolve problema

Se tu quer comprar um livro
Então vê se me escuta:
Melhor livro de romance
Pra mim é o Kama-Sutra

Príncipe encantado
Já é coisa do passado
Se o jantar é à luz de velas
O meu prato é frango assado"

Porque vocês sabem né?
Tá todo mundo preparado para um homem aproveitador, lobo mau e don Juan... Tá cheio por aí. Mas prá pras preparadas nunca se está preparado! E quanta mulher por aí já não teve o homem que quis só porque ele se sentiu na obrigação de comer? Vai dizer que não quer? Não vai dizer.

O fato é que a liberdade da mulher é também a liberdade do homem de ter que ser “o Homem” para aquela “Mulher”.

Então nem feminista, nem cachorra, nem dama, nem macho, nem nada.
Contrariar sim, mas sem contrários
O contrário do contrário é a mesma porcaria.
E no final das contas saber que:

Uma mulher é uma mulher é uma mulher
Uma mulher não é uma manga
Uma mulher não é um peito

A mulher não é o leite
Ainda que doce deleite
A moça no seu leito
Quer dar, não só o peito
Mas tudo que tem direito

Repito:
A mulher não é o peito
Respeito!

Para amar mulher de hoje em dia ainda tem jeito
É querer ela toda, e não precisa nem falar (eu te amo, nada disso)
Bastar ser para ela mais que homem com “H”,
É que homem, a gente sabe, também tem peito para dar!

E haja peito!

10 comentários:

  1. ADOREI!!! remeteu-me a um universo feminino impraticável para mim... discorreu a saga da mulher e do homem em relação a ela. idéias bem maduras moça jovem! bem nem dá pra dizer o que senti lendo o texto... até chorei... gracias

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  2. "Amor ainda é o nosso ponto fraco."

    "O fato é que a liberdade da mulher é também a liberdade do homem de ter que ser “o Homem” para aquela “Mulher”."

    tem um filósofo (Habermas) que diz q a liberdade de cada um só é possível com a liberdade de todos..

    achei o poema bom e leve. Senti falta de dor.

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  3. Andava pela rua esperando um momento um bom momento pra clicar, um quadro, uma pessoa, um cachorro que anda devagar.
    Vi vc falando, de forma clara, tdo que eu penso e as vezes não sei expressar...
    A máquina me desceu dos olhos, o click não saiu, mas como foi bom te escutar.. Não tenho a imagem restrada, mas a sensação é das melhores.
    Conitnue.. por favor!
    Grande beijo e prazer
    isabela alzira... de sampa q tem um autografo seu.. huaha entra no face tem lá foto sua!
    bjos até breve e até sempre!

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  4. Isa, foi muito bom te conhecer. Ainda bem que você fez esse contato. E obrigada! Esse "poema" meio funk, e meio colagem do mundo é super importante para mim.

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  5. Frederico,
    Bonito isso da liberdade. Tem outra que eu gosto também, um pouco mais misteriosa:
    "Liberdade é fazer aquilo que se tem necessidade" (acho que é da Clarice Lispector). E você tem fome de que?
    "Como dizer quem come, se, quando amamos, temos a mesmoa fome?" (Cairo Trindade)

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  6. Mas Frederico achou leve e sentiu falta da dor. Então prá ele um poema bem sangrento, e lindo:

    Amor cristão

    Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca.

    Amor é o tiro que deram no peito do filho da dona Madalena. E o peito do menino ficou parecendo uma flor. Até a polícia chegar e levar tudo embora. Demorou. Amor que mata. Amor que não tem pena.

    Amor é você esconder a arma em um buquê de rosas. E oferecer ao primeiro que aparecer. De carro importado. De vidro fumê. Nada de beijo. Amor é dar um tiro no ente querido se ele tentar correr.

    Amor é o bife acebolado que a minha mulher fez para aquele pentelho comer. Filhinho de papai. Lá no cativeiro. Por mim ele morria seco. Mas sabe como é. Coração de mãe não gosta de ver ninguém sofrer.

    Amor é o que passa na televisão. Bomba no Iraque. Discussão de reconstrução. Pois é. Só o amor constrói. Edifícios. Condomínios fechados. E bancos. O amor invade. O amor é também o nosso plano de ocupação.

    Amor que liberta. Meu irmão. Amor que sobe. Desce o morro. Amor que toma a praça. Amor que de repente nos assalta. Sem explicação. Amor salvador. Cristo mesmo quem nos ensinou. Se não houver sangue. Meu filho. Não é amor.

    (Extraído do livro “RASIF – Mar que Arrebenta”, de MARCELINO FREIRE, Editora Record, 2008)

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  7. Ah, faz sentido isso da lispector...

    às vezes se caracteriza a liberdade como a ação purificada das necessidades; mas essa liberdade é impossível para seres que existem - seres carentes, por definição.

    liberdade me parece o nome que damos para o estado em que todas as interferências que não gostamos são afastadas.

    nesse caso estamos livres para vivermos nossas necessidades íntimas e deliciosas.
    -

    isso do cairo acho corretíssimo, a ideia de comer é possessiva se ficar atada numa só direção de gênero. Já o comer recíproco me parece apropriado.

    ----

    em poesia (ou seja, na vida) gosto do sofrimento. porque une profundamente o texto e o leitor... Gosto dos soluços que desnudam os conflitos, acredito que a dor bem compreendida aponta para sua solução.

    --

    até logo

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  8. Ha! Alice vc faz festa nas minhas esperanças de um mundo melhor Ha! dorei

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  9. hoje prescrevi esse poema para uma amiga traída... tiro certo!

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