segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Arteiro






Delírio de libra
flor de fumo
doçura de chuva ácida

Poeta das imagens 
faz suar a mais fria
das fotografias

Sem alarde
mascara faces
eternizando tardes
suaves tempestades

Voa leve sem entraves
deixa de cabeça para baixo
depois dorme de conchinha
[morcego de passarinha]


Pega jacaré nas multidões
e desliza na minha
língua sua mordia
delícia de
saliva suicida

Ladrão de almas
rouba calma
e afaga minha fúria

Era uma vez
o mais sensato dos doidões
Era uma vez
a mais doida das sensatas

Era uma vez já era
em tempo de guerra
até artilheiro erra 

Arte com erro faz
A r t e i r o

sábado, 12 de outubro de 2013

Criança na água - homenagem ao dia das crianças



Sempre fui a criança que não queria sair da água. A maravilha do mar todos os dias na férias ao longo do ano era rara. Se alguém me acenava com a mínima possibilidade de me levar à praia, mesmo que fosse apenas uma vez e só dali a um mês, meu coração já se enchia de alegria. Eu pensava nisso todos os dias. Frequentemente os adultos de esqueciam do que pra mim era promessa. Então, diante da cobrança, eles riam ou se enfureciam, dependendo de seu estado de espírito. 
Adultos mudam de humor e reagem de maneiras imprevisíveis para as crianças. Quando a gente cresce entende que isso tem a ver com questões financeiras, de saúde, de trabalho e etc..., fatores incompreensíveis para as crianças, a não ser que os adultos expliquem para elas (o que não era o caso).
Todas as vezes que os adultos destruíam as minhas esperanças eu envelhecia. Na minha cabecinha infantil, achava que se mudavam de ideia a culpa era minha. Por isso, passava horas criando estratégias infalíveis, o momento ideal e a palavra certa para que cumprissem com o prometido. Sem nunca deixar perceberam o quanto aquilo era importante para mim – pois isso poderia gerar eternas manipulações (“se você não fizer isso eu não te levo a praia”). Mesmo com tanto esforço, nem sempre tive sucesso.
Hoje eu comemorei o dia das crianças indo à praia sozinha de bicicleta. A gente deixa a bolsa com uma tia simpática e pode desfrutar do prazer infantil de brincar com as ondas durante horas. Até hoje eu sinto menos frio na água do que os outros adultos. É um máximo não ter que depender de ninguém para me levar a praia. Eu até preferia ter ido com algum amigo. Mas sempre quando combinam e não vão, eles reativam a minha frustração infantil e me deixam muito zangada. Por outro lado, já até me apaixonei por um garoto quando acordou cedo e me levou à uma praia diferente num dia comum. Até hoje me pego inventando estratégias sem sucesso para evitar que furem comigo. Mas são cariocas, saem de noite, ficam de ressaca, acordam tarde... Se até eu mesma nem sempre consigo fazer o que eu quero, não posso achar que o que o outro faz pode depender de alguma coisa que eu diga. Depois da infância que eu tive, pelo menos essa lição acho que aprendi.
Viajando com esses pensamentos na cabeça, quando eu já estava explorando todas as variações de rimas para “amor” e “mar”, passa perto um bebum tarado da porra cortando a minha onda infantil. A gente tem que se ligar. Quando eu era criança não tinha que me preocupar com nada disso. Tinha meu pai por perto para tomar conta de mim. Minha mãe frenética no protetor solar. Devia dar muito trabalho cuidar da criançada na praia! Hoje mulher sozinha, curti a delícia da independência na praia e senti saudade dos meus pais.


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