domingo, 16 de agosto de 2015
Ensaios Antropofágicos
Gostosa
eles dizem
de mim e da comida
e eu até gosto que o digam
mas não sei
realmente
o que isso significa
será que sabem de alguma coisa que eu não sei
de mim
na comida?
Procuro seus olhos
Espero que me encontrem
Que me toquem
Mas são frios
Como espelhos
Através do espelho
Quem me vê assim não sabe
Eu já mergulhei em mim
Só eu sei o meu sal
Mas vocês se precipita
Como chuva
Navega minhas curvas
Surfa no meu gozo
Desbrava os volumes do corpo
Enquanto me olha de cima
Imagem refletida
Timoneiro do meus cabelos
Nem imagina o que acontece
Por trás do espelho
Só sabe quem atravessa
E conhece, avesso
Só sabe quem em silêncio
Indagou a superfície
E viu o outro lado
O contrário do claro, o caco
Ocaso da imagem
A solidão refletida
Que é minha
Só minha
E nunca será do homem
Isso você não come!
Não come!
Quem nunca?
Quem nunca colocou um espelho para explorar partes
íntimas do corpo?
Você conhece o seu gosto?
Você conhece o seu cheiro?
Não importa o que você ou os outros pensem
de você.
Você não sabe nada de si mesmo,
enquanto não se
comer.
Se come!
De olhos fechados
Eles se enganaram quando disseram que de olho fechado não
se enxerga nada
Tem muita dança do lado de dentro
Quero ver você carnavalizar o seu corpo
Com um monte de gente em
torno é fácil
Quer ver sozinho no seu quarto
Sem o olhar do outro pra cantar junto
Eu estou falando de você com a sua música
No escuro
De olhos fechados
Se come!
Empoderamento
Eliete Miranda |
As
pessoas mais fortes que eu conheço choram. Tem a força da água. Sempre que
sentem, derramam suas lágrimas. Mulher forte, empoderada, não precisa ter a
cara fechada (isso é papo do patriarcado). Emoção reprimida é água parada. Cria
lodo, pântano, mágoa. A gente se enfraquece pela pose, pela aparência, pelo peso
da couraça. Mais forte que a lança é a dança. Por isso hoje eu faço uma
homenagem a minha querida professora Eliete Miranda no seu
aniversário. Essa guerreira que tem nos ensinado a arte de dançar afro:
escavação do feminino sagrado. Ritmo primitivo, pés fincados. Debaixo do
concreto que sufoca está a terra. A faca nos poda, mas é fraca. Somos as raízes
que atravessam. Flor que nasce no asfalto. E quando chove tudo se alaga... A
cidade e sua pressa se submergem. Como um feto no nosso ventre. Tudo depende do
nosso trabalho. Criação, arte, parto. Somos o baile da cachoeira no encontro
com o vento. Nosso próprio empoderamento.
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