terça-feira, 30 de setembro de 2014

A musa da solidão

Como sentia frio no filme europeu, a musa do cinema se descolou da tela. Resolveu dar um rolê pelo Festival do Rio. Achou que causaria espanto, mas os homens nem reparam. Estão muito concentrados em seus telefones celulares, repletos de whatsapps, após a sessão. Quanta ingenuidade! Ela acreditara que aqueles os olhares eram todos para ela. Que os moços bonitos desejavam tê-la. Só que não. Eles preferem a tela. O único capaz de nota-la foi o velho, da era pré-tinder, ainda do tempo da paquera. Ele pisca e anuncia saber-se velho, "não pretendo assedia-la". Assinando sua sentença: "mala". A doce personagem, solitária, aceita solenemente sua companhia. De repente, todos os olhares se voltam novamente para ela. Só agora compreende: eles têm medo. Mulheres sozinhas, sobretudo belas, são um perigo. Convém evita-las. O velho insiste por seu telefone. Ela responde com ternura: "preferiria não". E retorna para sua tela, repleta de humanidade, a musa da solidão.

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