quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Peras pessoas





peras pessoas maduras
com sua parte escura
bem clara
sem culpa
você sabe
todo mundo tem uma parte
que não presta
e por causa dessa parte frágil
se é sábio

pois quando se separa
o podre
fica o naco mais gostoso
muito mais doce
que essas as peras verdes
aparentemente perfeitas
com sua beleza lisa, física
mas na verdade

sem sabores

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

a dança das formigas






dançar é ganhar o espaço
e está provado que quanto mais pessoas dançando em um ambiente
maior ele fica
como formigas
espremidas em um pequeno formigueiro

na maior harmonia

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

sífilis social



o fruto do estupro
nós somos os filhos da puta
negra, índia, europeia
eva
mulheres de uso

nossos filhos
são os filhos da puta
tem a boca do pai
mas tem nossos olhos
e precisam de nós


as mães são as melhores mulheres para mudar o machismo no mundo

as mães são as melhores mulheres para mudar o machismo no mundo


soberanos bebês
os filhos da culpa
colonizam e se curvam
à cultura do consumo

sua pornografia
suas putas
vossas santas mães
e servas irmãs

taças de leite
sobre a bandeja
seus dentes
desfiam os mamilos
sobre nosso peito
espalhando o sangue 
da sífilis social
com leite e luta
a gente cura
essa curra

‪#‎primeiroassédio‬ do gênero feminino




Eu era muito tranquila, imagina!
Eu andava nua
Eu era uma ilha
Uma índia
Uma filha
da terra
eu era

[Podia passear com o meu filho
e deixar a minha bolsa em qualquer lugar]

Eu era muito tranquila, imagina!
Eu era uma índia
Eu morava na Índia
e precisei ir ao banheiro que fica do lado de fora da minha casa
Eu estava voltando pra casa de madrugada

Eu era muito tranquila
Até que vem um homem e me estupra
Estupra porque eu estava nua
Estupra porque a saia era curta
Estupra porque achou que era puta
Estupra porque a essa hora, nessa praia, se estupra
Estupra porque eu não sabia que estupra
Estupra porque é minha a culpa

Aí vem um homem dizendo que eu tenho que ser mais tranquila
E é claro que eu gostaria de ser mais tranquila
Mas não fui eu quem inventou isso

Aí vem um homem dizendo que não tem culpa
que não é ele quem estupra
Na verdade, ele nem precisa
Ele tem todas as minas
E eu tenho muita sorte porque ele quer que eu seja sua
Ele quer casar, ele quer me colonizar
E depois disso eu vou me sentir muito mais segura
Porque ele vai me proteger dos outros homens
Mas para isso eu tenho que ser mais tranquila, muito mais tranquila
E aceitar tudo

Não, obrigada
Eu não sou uma vitima
Não preciso ser salva
Não preciso de relacionamento abusivo
Eu tenho meus amigos
Minha tribo

* Imagem retirada do site http://amantedaheresia.blogspot.com.br/2011/10/colonizacao-falica-ou-civilizacao-pelo.html


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Vamos falar de consciência negra





Vamos falar de consciência negra. Vamos falar do homem branco heterossexual brasileiro de classe média alta que tem a cara do colonizador. Esse cara, que muita gente acha que se deu bem em um emprego estável. Bom, esse cara, se sem consciência, é só mais um babaca. Não há motivo para invejá-lo nem odiá-lo em especial. Sem consciência, essa cara está na merda. Com dinheiro, mas na merda existencial. Ele pode nem perceber (porque não tem consciência) e achar que está legal, mas esse cara simplesmente não tem alegria de verdade. Ele não ginga. Ele não samba. Está doente e suas relações afetivas são precárias. A vida dele não tem um sentido que não seja consumo. Ele é assim tão rígido porque está com medo. Ele dorme e acorda todos os dias com medo de perder as coisas que tem e valoriza. Ele tem um medo que paralisa. Ele tem medo e por vezes também tem raiva de tudo aquilo que se move com o mínimo de liberdade. Vamos falar de consciência negra. Vamos falar de movimento.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Amou hoje?




Não venha me perguntar se eu amei hoje, camarada. Que eu não amo só nas horas vagas. Até parece que amor se desliga com botão! Eu amo todos os dias, sem feriado. Inclusive quando adoeço. Não tenho opção. Mas valeria você perguntar se regaram as plantas, se a água do cachorro foi trocada ou se já tiraram o lixo da calçada. Melhor seria que você pedisse para não xingarem o motorista de ônibus hoje, ou que não chutassem a pessoa que dorme no chão. [Essas coisas que machucam nosso coração] Isso todo dia eles fazem, enquanto caminham pela rua com flores e os bolsos cheios de boas intenções. Ah... não me pergunte de amor, meu camarada. Por causa de amor se maltrata. Alguma gentileza já estaria bom.

Dançar para a depressão





Essa é para quem ainda não levantou da cama hoje. E que provavelmente não vai tomar banho. Quem não comeu porque não tem ânimo para fazer comida. Essa é pra quem tem pena de si e quer tomar Fluoxetina. Essa é pra você que está cansado de viver. Vamos acabar logo com isso. Você já está mesmo em declínio. Atire-se logo neste precipício. Que sua queda seja livre e não amortecida por um colchão macio. Livre-se da mortalha dos lençóis. Não torne sua miséria mais confortável. Se jogue dessa cama, direto para o chão. E fique lá o tempo que for necessário. Abrace os limites. Do chão não passa. Agarre a sua solidão. Esqueça o autoengano e a autoajuda. A realidade é dura. Desista de resistir. Fique aí até que te doa os ossos. Você poderia pedir ajuda mas não quer ser visto assim. Não seria diferente se você fosse mais jovem, tivesse mais dinheiro, fosse mais magro, ou estivesse namorando. Esse sentimento também passa pelas pessoas bem sucedidas e casadas. Não há motivos razoáveis para estar nesse estado. Então não PENSE, PIRE. Use música. O ritmo afro, nesse caso, é recomendado. Essa é cultura que melhor entendeu de chão. Se até os povos escravizados dançavam. Por que você não? A dança tem sido subutilizada nos salões. Experimente pirar dançando sozinho no seu quarto com os olhos fechados. Incomode os vizinhos. Se a depressão te leva para o fundo do poço como uma corrente invisível no pescoço. DANCE! A dança é a arte de puxar essa força do chão.

#Notícias da Clínica




#‎Notíciasdaclínica. Recentemente alguns pacientes vem se queixando de um estranho fenômeno psicológico crônico. Trata-se de uma intensa vontade de rever indefinidamente uma determinada pessoa com quem se vem relacionando sexualmente de modo satisfatório. Tais pacientes, que não tinham qualquer plano de relacionamento inicialmente, começam a ter ideias de namoro e até mesmo casamento. É preciso informar que nem mesmo a melhor terapia reichiana é capaz de solucionar tal questão. Aliás, não consideramos o desejo de ter um relacionamento amoroso com quem se gosta uma neurose. Pelo contrário, este é um fenômeno natural e extremamente saudável. Desculpem, não há cura para o amor.

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