segunda-feira, 17 de maio de 2010

A linha da laje

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A moça que lava a roupa ao meio dia na laje é vista da linha vermelha pela outra que passa a caminho do trabalho e pensa: que seria eu se lavasse roupa na laje este momento? Que a moça da laje vale pouco porque lava roupa? Que boa é a outra que não lava? Que laje, que outra, que roupa? Nem sei se não sou eu a moça da laje que lava e passa, enquanto passo. Que não seria feliz se lavasse roupa na laje e fosse vista da linha vermelha por uma moça que vai ao trabalho de roupa?

Vão dizer que não seria feliz.
Que não sei o que é a vida. Não sei.
Mas seria outra. Ao meio dia.

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Quem é que vai cruzar a linha vermelha que separa as moças?

Nessa era de conectividade rede de relações virtuais eu tenho 325 amigos no Orkut mas ainda não inventaram a tecnologia de me ligar com o que vejo da janela do 485.

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Nada me faz chegar na moça, que sou eu, em outras roupas.

Linha comparativa que diz do que está abaixo e o que está acima. Da linha, da pobreza. Quem vai saber da felicidade de quê. E me fazer cruzar acontramão da linha vermelha da estratificação?

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Que linha de razão lógica e sensata me leva a temer uma criança mulata?

Que poderia ser meu filho, e é, por outro lado da linha. Do outro lado do assento... Tento. Minto. Medo. Qualquer hora vou ter um filho meu e deixar de me preocupar com o filho dos outros. Do outro que sou eu, ainda que não seja meu. Nessa hora. Serei outra.

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Quisera eu me meter em cada luz acesa de cada casa que vejo do alto. Pelo fio de alta tensão. Fruir. Me aninhar pelo gato. Em cada casa. Ainda mais das apagadas! Quem poderia traçar a consistência do vazio que separa aspirações irmãs? De tudo que vejo... E mais que ver, muito mais... Abolir a linha. Linha de fuga! Quisera eu sentir cada hálito de sonho da noite. Ninando. Cafungar o perfume da cada nuca de casa e da rua. E nunca dizer bom ou mal de um cheiro. Um cheirinho não faz mal. Aroma não tem moral. Se eu pudesse a mistura, de todos os cheiros de nuca de todos os cheiros de sempre. Ah se eu pudesse... Poesia!

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Um comentário:

  1. eita, num sei nem o que escrever diante disso tudo! poeta boa vc que quando dá palavras retira as minhas...tô sem. tá 100(serve nº?).

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